UMA CABEÇA CHEIA DE CORES

Marielle Franco, 38 anos, assassinada com 4 tiros na cabeça. Mais uma vítima para engrossar as estatísticas?

MARIELLE FRANCO – Arte Katia Velo

“Quantas mais vão precisar morrer para que esta guerra acabe? Mais um homicídio de uma mulher pode estar entrando para a conta da PM. Marielle Franco estava saindo de uma reunião”. Parafraseando a própria Marielle Franco na véspera do seu assassinato quando protestou em redes sociais sobre um jovem morto por policiais quando estava saindo de um culto religioso. Extermínio! É isto que está acontecendo! Mulheres, jovens, policiais, crianças, o crime não escolhe. É um câncer, na verdade, já se tornou uma metástase que toma conta do país, de norte a sul, leste a oeste. O Rio de Janeiro é a vitrine para o mundo. A sensação de “tudo posso, nada me acontece” remete-me ao Experimento da Prisão de Stanford devido aos aspectos psicológicos onde a influência do meio, a sensação de poder irrestrito, buscam compreender atitudes irascíveis como o nazismo.
PRECONCEITO
“Não sou livre enquanto outra mulher for prisioneira, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas.” Com a frase da escritora americana Audre Lorde, Marielle encerrou o encontro com as mulheres do movimento, Jovens Negras Movendo as Estruturas, um pouco antes de ser assassinada.  O preconceito já traduz a incapacidade de compreender o outro. Preconceito (pré-conceito) opinião, julgamento, análise sem conhecimento. Eu diria que é mesmo uma pobreza de alma. Obviamente você não precisa amar todo mundo, somente seres divinos são capazes, mas emitir opinião e julgamento sobre uma pessoa apenas por sua origem, raça, classe social e sei lá mais o que é pura ignorância mesmo. Buscando uma imagem que possa exemplificar,  indico um filme brilhante, Tempo de Matar (1996). Em Mississipi, dois acusados de estuprar uma menina negra de 10 anos, é revertido em pagamento de fiança, o pai inconformado mata os dois e fere um policial. No julgamento do pai o advogado  antevendo que não haverá a mesma benevolência, em sua narrativa do crime muda a personagem negra por uma branca. É absurdo como a reação do júri muda completamente.
EMPODERAMENTO
Prefiro a palavra ter poder! Afinal, sou fã da Mulher Maravilha. Falando sério, não gosto de como esta palavra, empoderamento, é usada.  Também não gosto de passeatas do tipo, Orgulho Gay, acho que se começarmos a nos dividir em minorias, vai ficar assim mesmo, menor, simples, raso. Acho mais produtivo a união pelo ser humano, homens, mulheres, crianças, pessoas comuns, pessoas extraordinárias, pessoas com ou sem necessidades especiais, mas todas humanas, tão humanas que com quatro tiros na cabeça (causa morte de Marielle) também morreriam.
FALKE NEWS
É sabido que muito sobre o que foi divulgado sobre Marielle Franco era mentira, ou seja, ser ligada à traficantes, ser do Comando Vermelho, defender bandidos, ser usuária de drogas e a imaginação vai longe. Mas, nem tudo era mentira, pois, a vítima em questão era negra e homossexual. Então, já deve ser condenada! Gente do céu, este mundo está virado no “Jiraya”.  Vamos parar de compartilhar notícias falsas, vamos pensar um pouquinho antes de comentar uma foto e acredite, quase ninguém liga para a sua opinião. Em busca de um caminho mais produtivo, como sugestão indico um mestre, Sócrates, resumidamente, antes de falar (escrever, digitar) algo, passe pelas três peneiras que são: Verdade – ter certeza absoluta, Bondade – será algo que vai ajudar alguém e Necessidade – qual será a utilidade de contar ou passar adiante. Então, vamos peneirar e ver o que vai sobrar.
VIOLÊNCIA
Violência só gera violência, redundante, mas fatídico. Qualquer intervenção em um momento crítico pode ser necessária, mas não resolve o que a motiva. No Brasil, o desemprego, a miséria, a desigualdade social, o descaso com a educação, a falta de oportunidade e a roubalheira sem precedentes dos políticos, nos conduz a um pensamento coletivo do tipo “se eles fazem, por que eu também não posso?”. Não adianta só construir mais presídios, colocar mais policiais (ou soldados) nas ruas, criar mais leis. Você até pode tentar estancar o sangue colocando um torniquete, mas o problema continua e só vai piorar. Os próximos passos: amputação e, consequentemente, morte.
ESPERANÇA
Eu não poderia acabar esta coluna apenas com desgraça, não tenho vocação para isto. Pelo contrário, acredito que a morte de Marielle Franco (e o motorista, Anderson Gomes) e mais 5322 em 2017 e quase 500 só em janeiro no estado do Rio de Janeiro (não é o mais violento do Brasil) seja um marco para uma transformação neste País já tão maltratado. Vamos exigir justiça, sejamos o exemplo do que queremos! Devemos e podemos mudar! Justiça, igualdade e oportunidade possam ser a tríade do nosso Brasil! Não importa a cor, cargo, opção sexual, religião, um crime é um crime! Basta!

Matéria publicada no Jornal Folha da Mulher, Coluna Katia Velo – Abril/2018

2 Comments on UMA CABEÇA CHEIA DE CORES

  1. Marisa dos Santos // 15 de abril de 2018 em 21:02 //

    Existem coisas q ñ entendemos….só ‘DEUS’…

  2. Oi Marisa! Talvez seja a espiritualidade que falte as pessoas. Beijo e obrigada por participar. Beijos, K

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