Primeiro edifício corporativo do Brasil com autossuficiência em água e energia é de Curitiba

Felipe Faria e Ricardo Cansian
Crédito: Gabriel Rodrigues.

 

 

O diretor-executivo do GBC Brasil, Felipe Faria, concedeu ao diretor da RAC Engenharia, Ricardo Cansian, a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design ou Liderança em Energia e Projeto Ambiental) Platinum para a nova sede da empresa sediada em Curitiba que é o primeiro edifício corporativo NET Zero Água e Energia do Brasil, ou seja, produz toda a energia elétrica que consome e também capta e trata todo o esgoto sanitário gerado, bem como torna a água de chuva potável. O projeto teve a consultoria ambiental da Petinelli e é assinado pelo arquiteto Gonzalo Serra. A edificação recebeu a maior pontuação da América Latina referente a essa certificação, com 97 pontos, e também foi a ganhadora do 4º Prêmio Saint Gobain de Arquitetura – Habitat Sustentável, que conscientiza sobre a importância das construções sustentáveis para o setor.

 

O diretor da RAC Engenharia, Ricardo Cansian, conta que para se chegar a essa autossuficiência foi adotada uma série de equipamentos e sistemas sustentáveis, previstos ainda na fase de projeto, que acarretaram um investimento extra de 14% à edificação. “A economia proporcionada pelo correto dimensionamento dos sistemas é capaz de reduzir o consumo geral do edifício em 27%. Só a economia de energia, se comparado a um edifício padrão do mercado, é de aproximadamente R$ 20 mil por ano”, comenta.

 

O conceito do empreendimento foi desenvolvido em parceria com a empresa de consultoria em sustentabilidade Petinelli. De acordo com diretor da empresa, Guido Petinelli, a sede da RAC marca uma importante evolução das construções verdes não apenas no Paraná, mas também no Brasil. “Não é por coincidência que o primeiro edifício Net Zero Energia e Água no Brasil também obteve a maior pontuação LEED. A certificação foi criada para reconhecer excelência, não existe exemplo mais nítido de excelência no que diz respeito a desempenho em edificações do que um edifício ultra eficiente que gera toda a energia que precisa para operar, trata todo o esgoto gerado in loco e substituir a água fornecida pela concessionaria por água tratada da chuva”, destaca.

 

A estimativa é de que o montante investido seja recuperado entre 8 e 10 anos. Mas, para Cansian, esse não é o ponto essencial para a tomada de decisão em se investir em construções sustentáveis. “O que norteia essa escolha é a busca de soluções que tornam a edificação mais eficiente, otimizando o uso dos recursos naturais e evitando excessos, com intenção de agregar qualidade ao empreendimento. Trata-se mais de uma mudança de visão sobre a forma de conduzir os negócios e projetos na construção civil do que meramente uma questão de custo”, opina.

 

Segundo o diretor executivo do GBC Brasil, Felipe Faria, as construções verdes se tornaram a melhor opção de negócio do mercado imobiliário. “O mercado de construções verdes no Brasil tem se consolidado nos últimos dez anos, com o engajamento de toda a cadeia produtiva da construção civil, que envolve construtoras, arquitetos, fornecedores de produtos e serviços e outros agentes do mercado”, avalia.

 

Em um ranking de 165 países onde a certificação para construções verdes LEED se faz presente, o Brasil ocupa a 4ª posição com 1.230 projetos registrados. Em 2016, mesmo diante de aspectos pessimistas do ponto de vista econômico e político do país, a construção sustentável apresentou outra realidade, com um dos melhores desempenhos em termos de novos projetos registrados buscando uma certificação. Foram 205 projetos novos (LEED e Casa), sendo que o recorde é de 2012 (209), segundo o GBC Brasil.

 

Para Faria, esses dados são um retrato da ampliação da participação de mercado das construções verdes no país. “Além dos empreendimentos de alto padrão, hoje as residências, creches públicas, instituições de ensino, lojas de varejo, entre outros empreendimentos já buscam suas certificações, o que é um importante avanço”, destaca.

 

Zero energia -Para se chegar à NET Zero Energia, toda a energia para consumo do prédio da RAC Engenharia é gerada por painéis fotovoltaicos, inclusive para ar-condicionado, elevadores e equipamentos. Com 19,8kW de potência instalada, tem-se a geração anual de 26.509 kW. Petinelli explica que, com a utilização da ferramenta de simulação energética no edifício, foram avaliados os dados de radiação solar local para o dimensionamento do sistema fotovoltaico, buscando a autossuficiência na geração de energia que será consumida durante as horas de trabalho no prédio.

 

Ainda, investiu-se na eficiência dos sistemas de ar-condicionado e iluminação, dimensionados conforme simulação termoenergética via software, evitando a instalação de capacidade acima do necessário, o que proporciona mais conforto aos ocupantes. Para isso, algumas das soluções adotadas foram a redução da carga térmica através de estudos da envoltória, iluminação por lâmpadas de LED, sensores fotométricos e de presença, além de dimerização contínua das luminárias.

 

Para favorecer a iluminação natural, adotou-se como solução o uso de brises (também conhecidos como “quebra-luz”), para evitar ofuscamento nos usuários para o sol nascente (verão) e para maior insolação no inverno. O controle da temperatura, com redução das ilhas de calor, também é possibilitado por telhados verdes, contabilizando uma economia de 60% do consumo de energia.

 

Além disso, optou-se pela instalação de ar-condicionado supereficiente, que varia sua capacidade de acordo com a real carga térmica instantânea necessária. “Comparando-se com um prédio padrão no mercado, o projeto conta com uma redução de 46% do consumo de ar-condicionado e uma capacidade instalada 44% inferior”, comenta o diretor da RAC Engenharia.

 

Zero água– Já a principal medida para se chegar à autossuficiência em água é a captação, tratamento e transformação dos efluentes in loco. Para isso, a sede da RAC Engenharia conta com uma estação de tratamento de esgoto própria. O tratamento preliminar consiste na decomposição da matéria orgânica, que gera lodo coletado uma vez por ano.

 

A segunda fase de tratamento é feita por meio de reatores anaeróbicos e wetlands, jardins filtrantes que usam plantas flutuantes ou emergentes para montagem de um poço artesiano, completando o processo de desinfecção e reuso das águas cinzas e negras (usadas para lavar louça, roupa e do banho) para reuso nos vasos sanitários. “O excedente é despejado nas galerias municipais, após passar, necessariamente, pelo processo de tratamento e filtragem natural “, explica Petinelli.

 

A sede da RAC Engenharia conta ainda com um sistema de captação da água das chuvas, que se dá num reservatório principal de 5 mil litros, onde reserva-se a água captada no telhado da edificação.  Esta, após o devido tratamento, torna-se potável e própria para reutilização em torneiras e chuveiros. “A utilização de metais e louças de reduzida vazão hídrica, juntamente a acionamentos inteligentes, contribuem para essa racionalização, já que diminuem a demanda de água e o volume de efluentes produzidos pela edificação”, ressalta Cansian.

 

A nova sede da RAC Engenharia também estimula o uso de meios de transporte alternativos. A edificação conta com ponto de recarga para carro elétrico, que permite carregar a bateria do veículo através da energia solar. A empresa curitibana também incentiva o uso de transportes particulares em grupo, como van e carona solidária, com vagas especiais para os veículos de quem pratica esta modalidade. Além disso, o prédio conta com bicicletário e vestiário para o uso dos funcionários.

 

 

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