ENTREVISTA PARA A COLUNA KV – COLETIVO DUAS MARIAS Com Malu Rebellato e Nani Nogara

Obra “GAIA” na Luka Art Gallery-Sintra-
Portugal.
Da esquerda para a direita: NaniNogara e Malu Rebelato.
Na Embaixada do Brasil em Madrid: Da esquerda para a direita: Ilmo Ministro Sr. Luis Cláudio Themudo. Artista Nani Nogara. Curadora da Lukaartgallery de Portugal, Ana Carolina Villanueva. Exmo Embaixador da Espanha Sr. Orlando Ribeiro. Artista do Coletivo Duas Marias Malu Rebelato. Empresário Jorge Rebellato. Ilma Adida Cultural Sra. Raquel Naili.
Crédito: Divulgação.

A escultura Gaia, criada por vocês,  Malu Rebellato e Nani Nogara, foi selecionada para representar o Brasil no 60° Prêmio Reina Sofia de Pintura e Escultura, em Madrid. A convite da curadora Ana Carolina de Villanueva, a obra: feita a partir de mais de 10 mil coadores de papel usados por mulheres de todo o Brasil, impacta pela sua grandiosidade, delicadeza e forte mensagem de resiliência feminina.

E digo isso, pois eu tive a possibilidade de vê-la e todo o contexto em que ela estava, na exposição do Museu Oscar Niemeyer, o nosso MON, ou Museu do Olho.

A seguir, conheça um pouco mais sobre este trabalho maravilhoso e surpreenda-se!

Obra GAIA na Luka Art Gallery no Palácio Biester- Sintra- Portugal.
Crédito: Divulgação.

Katia Velo – Queridas Malu e Nani, onde e/ou como surgiu a ideia de criar Gaia? Ela foi sendo ampliada, ou já tinha essa ideia grandiosa?

Planejamos uma exposição sobre mulheres e seus grandes feitos. Nos inspiramos na mitologia: em deusas e heroínas. Gaia, da mitologia grega, foi a que mais tocou nossos corações e estava dentro de nossos objetivos como futura escultura, por ser a própria Alma Mater, a Mãe Terra ou seja, nosso Planeta.

Foi criada inicialmente em tamanho normal, para que pudesse ser usada pela artista Nani, para ensaio de fotografia performática, feitas pela artista Malu. Posteriormente, quando decidimos expor a obra Gaia no museu, ampliamos suas proporções, para ser digna de uma deusa mitológica e toda sua magia!

Obra Gaia no Museu Oscar Niemayer em Curitiba.
Crédito: Divulgação.

Katia Velo – Trabalhar com mais de 10 mil coadores de café usados deve ter sido um verdadeiro desafio artístico e técnico. Como foi esse processo? Houve algum cuidado especial para preservar o material?

Foi um processo longo, quase 4 anos. Primeiramente solicitamos às pessoas que guardassem os filtros usados e nos doassem. No início as pessoas demoraram para entender o processo. Muitas lavavam os filtros, não queriam entregá-los com a borra. Então explicávamos que deveriam apenas tirar o excesso e deixar secar naturalmente. Porque nosso interesse, era justamente ter esses filtros com os pigmentos do café. Pois o filtro de café ainda com a borra adquire uma coloração belíssima depois de seco e, se assemelha grandemente a pele do corpo humano devido aos seus poros, o que o tornou perfeito para a criação da Deusa Gaia!

Após receber os filtros, os abríamos e tirávamos o excesso de pó, contávamos e selecionávamos.

Um dos maiores desafios foi encontrar a melhor forma de unir os filtros e garantir que obra não ficasse frágil. A cola foi descartada em função do pó do café. Decidimos pela costura com linha de algodão. O que trouxe para a obra a ideia do fio da vida e, nós artistas, como Moiras, deusas do destino humano.

Foram gastos mais de 4km de fio.

Obra GAIA no Museu Oscar Niemayer em Curitiba.
Crédito: Divulgação.

Katia Velo – Durante a criação dessa obra monumental, houve algum momento inesquecível, alguma história que tocou vocês de maneira especial? Afinal, o processo é sempre uma parte muito importante.

Como foram muitos dias e muitas noites de costura, inúmeras furadas de agulhas, muitos dedos cortados, foi inevitável a aproximação entre nós,  confidências, e muitas ideias para obras futuras. Também tivemos ajuda de familiares nesse processo em todas as frentes, o que nos deixou muito tranquilas e felizes!

Uma emoção especial foi a atenção da Dona Dilma, que recolhia os filtros nas demais casas do bairro,  processava, secava e guardava em caixas para nos entregar. D. Dilma é uma senhora muito querida, que colabora com várias entidades e  sozinha juntou mais de 2 mil filtros.

Katia Velo – Gaia é uma homenagem às mulheres? A todas nós? Como vocês sentem essa representação simbólica?

Sim. Sendo ela a representação da Terra, é o símbolo do poder gerador feminino.  

Katia Velo – A escultura me tocou profundamente pela sua beleza imponente, feita apenas com coadores usados; sem adornos, sem excessos. Foi essa a intenção desde o início? Transmitir grandiosidade com simplicidade?

A intenção foi mostrar a união das mulheres brasileiras, suas histórias, seus momentos, suas angústias ou alegrias, representando a indescritível força e resiliência das mulheres de todo o mundo. E achamos crucial costurar junto toda essa história de mulheres para dar vida à Gaia! Na obra, não têm apenas filtros de café, estão gravados e costurados ali, o dia a dia de cada mulher, as boas notícias e as más também; as surpresas, as saudades, os amores, as ansiedades, os encontros e desencontros e todos esses sentimentos em torno de um dos melhores momentos ; o café diário! E era exatamente essa magia humana diária que queríamos como matéria- prima!

Para nós a grandiosidade está nesse conceito.

Katia Velo – Envolver tantas mulheres  é algo belíssimo e potente. Como foi essa conexão?

Foi e continua sendo emocionante. Principalmente quando as mulheres se sentem literalmente parte da obra Gaia.

Da esquerda para a direita: Malu Rebelato e Nani Nogara. Sua Majestade Rainha Sofia, da Espanha. Curadora e proprietária da Luka Art Gallery, Ana Carolina Villanueva.
Crédito: Divulgação.

Katia Velo – Representar o Brasil em um prêmio internacional tão importante já é algo grandioso. E ainda com a presença da Rainha Sofia! Como foi viver esse momento?

Surreal! Quando a nossa curadora, Ana Carolina Villanueva, proprietária da Luka art Gallery, falou que iria nos indicar ao Prêmio, não acreditamos, pensávamos que não teríamos nenhuma chance. Quando ela nos deu a notícia, de que foram selecionadas 66 artistas entre mais de 500 e estávamos entre eles, foi um sonho. Além disso, em 60 anos do Prêmio Reina Sofia, fomos as primeiras artistas brasileiras a serem classificadas. Ter a própria Rainha Sofia, apreciando com interesse a nossa obra, nos fazendo perguntas sobre o processo e elogiando, foi como estar em um conto de fadas.

Katia Velo – Após essa experiência tão intensa e simbólica, o que vem pela frente? Há novos projetos?

Com certeza. Gaia continuará viajando pela Europa, em futuras exposições.

Estamos planejando uma nova obra. Aproveitamos para solicitar a colaboração de todos os seus leitores. Agora nossa matéria-prima serão cartas de amor, ou desamor. Postais ou fotos trocadas com mensagens de amor; telegramas ou qualquer outra mensagem relacionada ao assunto. Precisamos que as pessoas nos doem os originais, porque farão parte da obra que será exibida em museus.

Palácio Biester – Sintra-Portugal.
Crédito: Divulgação

Katia Velo – Gostariam de deixar um recado aos leitores da Coluna KV?

Nunca desista de seus sonhos. Trabalhe por eles, podem se realizar!

Gostaríamos de agradecer a todas as pessoas que colaboraram conosco em todo o processo, durante esses 4 anos, bem como as pessoas que divulgaram o resultado desse trabalho.

Um agradecimento especial a nossa curadora Ana Carolina, que transformou esse sonho em realidade. Desde o momento em que ela viu, por fotos, Gaia exposta no MAC/MON, se apaixonou e levou a obra para Portugal. Ali, organizou duas exposições maravilhosas: O Nascimento de Gaia e Renascer, em sua Galeria Luka Art Gallery, localizada no Palácio Biester em Sintra-Portugal.

Sobre a Obra
Majestosa, impactante e sensível, Gaia tem mais de 2 metros de altura e 1,80 m de circunferência. Seu vestido-escultura foi construído por meio de um ambicioso trabalho de costura e modelagem, unindo milhares de coadores usados — objetos carregados de memória afetiva e simbologia. Mais do que uma escultura, Gaia é um monumento à fé cotidiana e à força resiliente das mulheres do mundo.

Sobre as artistas

O Coletivo Duas Marias nasceu na cidade de Cascavel, em 2012.  É formado pelas artistas Malu Rebelato e Nani Nogara, graduadas em Artes Visuais e pós-graduadas em Arte e Educação. Vivem e trabalham em Cascavel-PR.

Malu trabalha com a fotografia desde a adolescência. Nani vem do Teatro e do trabalho tridimensional. A junção dessas diferentes influências resultou no trabalho conjunto, assim descrito por Leonor Amarante: “O conceito de trabalho do Coletivo remete ao campo expandido da arte contemporânea e suas multiplicidades. As artistas transcendem campos formais, trabalham com fotos/performances e navegam por circuitos simbólicos promovendo um hibridismo entre a ecologia e a arte visual, a poesia e o vídeo, a escultura e o teatro. A parceria entre elas nasceu durante a faculdade de arte, em Cascavel, e potencializou mais tarde um repertório inspirado no feminino e suas vertentes sócio-político-culturais.”

Rede Sociais: @coletivoduasmarias

Contato:
Email: coletivoduasmarias@gmail.com

1 Comentário on ENTREVISTA PARA A COLUNA KV – COLETIVO DUAS MARIAS Com Malu Rebellato e Nani Nogara

  1. Querida, uma honra e alegria falar para você, nossa querida amante incondicional da arte, sobre esses momentos tão importantes para nós! Muito obrigada!!

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