A VISTA DO MEU PONTO POR ENGELBERT SCHLÖGEL: ADMONT E SUA PRECIOSA BIBLIOTECA.
Apesar deste já ser o décimo ano em que vivo na Áustria, sinto-me, confesso, com um pouco de vergonha para admitir que ainda não havia visitado essa joia austríaca. Mas, finalmente me presentei, no recente Domingo de Páscoa: estive em Admont! A cidadezinha fica a duas horas de Graz – onde moro, no estado da Estíria (Steiermark).
Antes da visita, como por hábito, procurei estudar sobre a cidade: a igreja, o monastério, o museu e a famosa biblioteca que é conhecida, por várias razões: a oitava maravilha e, também, a maior biblioteca monástica do mundo, dentre outras.

Crédito foto: Engelbert Schlögel

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Crédito foto: Engelbert Schlögel.

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A BIBLIOTECA DA ABADIA (BENEDITINA) DE ADMONT, ÁUSTRIA
Não é necessário que alguém se torne um amante de livros para apreciar a beleza e o drama da arquitetura e decoração da biblioteca de Admont. A história, dentro de suas paredes, é suficiente para atrair alguém para visitá-la, mas é a experiência infinitamente única de passar por essas grandes portas que realmente conquista o coração de todos.
A Abadia Beneditina de Admont – onde se encontra a biblioteca – foi construída, pela primeira vez, em 1074 e permanece, até hoje, como um dos mais antigos mosteiros remanescentes na Europa. Caminhar pela Abadia de Admont não é apenas uma experiência histórica, mas também uma experiência divina.
A arquitetura da abadia é ímpar. Normalmente, ouvir as palavras ‘gótico’ e ‘igreja’ ou ‘catedral’, juntas, é bastante comum. Muitos edifícios religiosos que foram construídos, em séculos passados, tinham características góticas – como campanários e torres – completos com esculturas dramáticas e decoração de toldo que, instantaneamente, revelavam o estilo do edifício.
Admont Abbey, no entanto, é um pouco diferente; embora muitas de suas características sejam góticas, elas também são no estilo barroco, o que não é algo que muitos pensariam quando se tratasse de um monstro da história da arquitetura. As paredes, normalmente humildes e menos luxuosas do mosteiro, contrastam, fortemente, com as impressionantes obras de ouro e mármore – e contra as dramáticas prateleiras e paredes brancas. Não é fácil definir o conjunto.
A sala principal da Biblioteca de Admont, realmente, é de tirar o fôlego, e é muito mais significativa do que apenas suas elaboradas características cosméticas. O design da biblioteca foi de ninguém menos que Wilhelm Bücher, que criou sua aparência neogótica.
A data da construção original do mosteiro – 1074 – simplesmente não coincide com sua arquitetura do século 17 – muito posterior. Mais de cinco séculos depois, o mosteiro original viu um incêndio que destruiu a maior parte de sua construção original. Uma lástima, é inegável, mas a busca da correção ocasionada pela tragédia tornou a biblioteca ainda mais sem igual.
Coube a Bücher recriar um edifício que servisse ao mesmo propósito – mas que foi totalmente atualizado para o novo tempo do edifício. Isso explica o fato de que a Biblioteca da Abadia de Admont ainda é a biblioteca de mosteiro mais antiga do mundo, mas com uma aparência totalmente diferente da anterior: um misto entre o passado e presente, intermediado pelo conserto que valorizou, ainda mais, a obra.

Crédito foto: Engelbert Schlögel.

Crédito foto: Engelbert Schlögel.

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Dimensões: 230 pés de comprimento, 46 pés de largura, 42,6 pés de altura.Características ultra marcantes: seus intrincados afrescos que adornam o teto. É difícil decidir o que olhar ao entrar na biblioteca, pela primeira vez. As prateleiras, paredes, portas e janelas adornadas com ouro são provavelmente a primeira coisa que chama a atenção do visitante. A sala, como um todo, chama suprema atenção – acrescido de que os livros são, também, empilhados no segundo andar, onde ainda mais prateleiras estão agarradas até o teto.
Não quero parecer brega, mas posso afirmar que a sala inteira, centímetro por centímetro, o ambiente todo… é chique! E cheia de características barrocas, incluindo seus dramáticos arcos de janela intrincados. O teto abriga uma incrível obra de arte a fresco (afresco, diz-se, no Brasil), que conta uma história intrigante. A obra retrata o conhecimento humano, desde a compreensão do pensamento e da fala até as artes e as ciências. Esculturas habilmente esculpidas também aparecem por toda a sala, atraindo o olhar ainda mais para suas paredes sagradas. É tudo um verdadeiro todo!
Com o passar dos anos, vai-se entendendo que é equívoco comparar beleza entre lugares porque cada um tem personalidade, história e frutos singulares, e qualquer comparação pode trazer demérito, injustiçando o objeto.
Admont confirma esta minha visão, reforçando o propósito de que a cada nova conquista, ao se conhecer um local supremo em beleza e história, ou natureza, enobrece-se a caminhada e atiça a alma.

Engelbert Schlögel é professor, escritor e palestrante. Doutor em Filosofia, Sociologia e Mundialização pela Universidade de Coimbra, atua na Áustria como docente e voluntário em projetos educacionais e culturais. Com vasta experiência internacional, é Colaborador Honorário e Correspondente da Coluna KV na Europa.
Que coisa linda Engelbert. Para pessoas como eu que não tem oportunidade de ver as obras de arte do mundo, é como se fosse uma viagem cultural. Que preciosidade de biblioteca! Aqui no Brasil temos uma parecida com essa: a Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro.