A MODA COMO FORMA DE PROTESTO

Foto/Montagem: Katia Velo

Na entrega do Globo de Ouro 2018, em Los Angeles, as americanas recorreram à moda para dar corpo ao protesto Times´s UP liderada por mulheres em Hollywood que lutam contra assédio e desigualdade de gênero. O uso de preto foi uma forma criativa e inusitada aderida por atrizes como Gal Gadot, Reese Whiterspoon, Eva Longoria, America Ferrera, Natalie Portman, Meryl Streep, Angelina Jolie, Oprah Winfrey, entre outras estrelas que adotaram o visual black.
O engajamento é justo, afinal o número de depoimentos e ações não deixam dúvidas, a exploração sexual contra as mulheres continua sendo um problema sério a ser resolvido. Devemos combater a todo custo que sejamos tratadas como objetos de uso, exploradas, violentadas, etc. Devemos estar alertas, precisamos escolher as melhores alternativas e não devemos aceitar imposições, chantagens, etc.  Também devemos combater as cantadas baratas e de mal gosto, os baixos salários, o excesso de trabalho dentro e fora de casa.  O combate deve ser feito até em detalhes como reclamar em bares que cobram metade (ou entrada gratuita) para mulheres, afinal, há um propósito para isto, não é mesmo? Evitar beber exageradamente, recusar bebidas oferecidas gratuitamente. Acredito ser importante ter uma postura firme para obtermos respeito. Natalie Portman em entrevista para o Estadão de São Paulo declarou Eu construí uma imagem de prudente, conservadora, nerd e séria a fim de que meu corpo ficasse seguro e que minha voz fosse ouvida. Eu senti a necessidade de cobrir meu corpo e inibir minha expressão e meu trabalho para mandar uma mensagem ao mundo de que eu era alguém que merecia respeito e segurança”.

 

MULHERES “AVANT-GARDE”

Que as francesas não gostam de americanas é quase que de conhecimento comum. Para as francesas, as americanas são supérfluas demais, maquiadas demais, exageradas mesmo. E as francesas sempre foram mais intelectualizadas, exigentes, do tipo “baterem o pé no chão” e de vanguarda. O movimento liderado pela atriz Catharine Deneuve, foi um manifesto contra o Time´s UP. “Esta vontade de mandar os homens para o matadouro, em vez de ajudar as mulheres a serem mais autônomas, ajuda os inimigos da liberdade sexual”, dizem as mulheres numa carta aberta escrita no Le Monde. Outra mulher que não aderiu o “luto” das americanas é a escritora e colunista Danuza Leão. Em entrevista a Revista Veja de 24 de janeiro de 2018, Danuza destaca a importância em enfatizar o não e que a mulher deve saber sair de situações desagradáveis. “Se eu estiver indecisa, digo não… Se bobear com um homem, você será levada a situações desagradáveis”.  A colunista defende também a paquera “Que história é esta de não poder assobiar para uma mulher”.

NOVOS CÓDIGOS DE CONDUTA
Com tanto buchicho, não é à toa que algumas empresas (principalmente as americanas) tenham adotado novas regras dentro do ambiente de trabalho, ao meu ver, algumas exageradas. Algumas proibições: cumprimentar com beijinhos, dar carona, reunião com porta fechada, mandar um emoji de coração ou beijinho são algumas proibições.
Há menos de 100 anos, muitas e significativas mudanças ocorreram. Mulher desquitada (antes não havia divórcio no Brasil) era considerada “mulher da vida”, prazer sexual feminino não era aceito, havia a mulher para casar e a mulher para ter relações sexuais livres, filhas que engravidavam antes do casamento eram expulsas de casa, não tinha moleza para as mulheres. Não tínhamos direito a voto como muito bem apresentado no filme “As Sufragistas’ que conta a história das mulheres que enfrentaram dificuldades e até agressões na luta por igualdade de direitos e pelo direito de voto.
Portanto, algumas atitudes que podiam ser vistas como educadas como abrir uma porta, elogiar um perfume ou uma roupa, agora podem ser vistas como assédio sexual.

O PODER DA SEDUÇÃO

Está difícil achar um príncipe encantado (para não falar impossível). Há mais sapos!  Acredito que falta (e muito) bom senso, não acho que nem as americanas estão totalmente certas, nem as francesas. Observem a natureza, os machos cortejam, dançam, se enfeitam, fazem mil e uma peripécias para que a fêmea o escolha. E tanto esforço é recompensado com o direito a copular e ter futuros filhotes. Sedução é uma palavra doce e que se encaixa muito bem no contato entre homens e mulheres (e outros tipos de relacionamento amoroso). Com respeito não há motivos para tanto alarde. Mas, coloque a boca no trombone, reclame, denuncie caso tenha algum tipo de sofrimento físico ou emocional. Por outro lado, resgate o seu valor, saiba da sua capacidade inimaginável e que discussões como esta não tenham nenhuma necessidade futuramente. E que as mulheres continuem usando preto, mas apenas por ser chique e elegante.

2 Comments on A MODA COMO FORMA DE PROTESTO

  1. Bacana Katia… e não vamos esquecer da última vez que a moda foi usada como protesto, sendo no punk rock inglês entre 1974 e 1979, também nos EUA e nos anos seguintes em outros países, abs.

  2. Sim, Marcos!
    A moda está sempre na vanguarda. Obrigada pela participação. Abraço, Katia

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