Entrevista Internacional – RICARDO FERNANDES

Ricardo Fernandes durante a Art Paris (2009) Foto/Divulgação

Matéria publicada em site antigo – 17/04/2011

http://www.guiasjp.com/opcoes.php?option=591&id_noticia=60963&id_canal=49
RICARDO FERNANDES é marchand, curador de eventos de Arte e design, crítico de arte credenciado pela Association Internationale des Critiques d’Art – AICA e idealizador do CONTEMPORANEO, projeto que visa apresentar ao mercado europeu, obras de artistas conceituados e contemporâneos do Brasil e América Latina.

Katia Velo – Acredito que não haja uma outra profissão cuja criação dependa tanto de motivações pessoais, mas que contrariamente, dependa da opinião alheia, em especial de críticos de Arte e marchands para obter sucesso. É um paradoxo, não?

Ricardo Fernandes – Na realidade não acredito na arte como uma profissão de dependência, logo não acredito numa relação de dependência entre o artista e os agentes da arte. Acredito num complemento mútuo, pois nenhum sobrevive sem o outro. Há a necessidade de uma convergência entre cada lado pelo amor profissional ao mesmo tema, porém, claro, cada qual no seu papel e todos evidentemente na obrigação de cumprirem a sua missão social também, que depassa questões financeiras e entra no campo da História da arte e das civilizações. Portanto cada qual segue seu caminho, mas todos têm de reconhecer na Arte o compromisso para com a humanidade. Vendo desse parâmetro não enxergamos paradoxos e sim equilíbrios.

KV – Em alguns casos (infelizmente), o mercado de Arte é usado para lavagem de dinheiro, como repercutiu sobre a coleção do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira. Como poderíamos evitar, ou minimizar isto?

RF – A ilegalidade está em todos os setores e acompanha o Homem em todas as fases da História também. O maior caminho de combate à criminalidade e à ilegalidade chama-se educação e civilidade.
Há ainda um grande caminho a se percorrer. Quanto mais educado um país, mais distante de certas irregularidades. No caso do Brasil, eu insisto que nosso caminho para aparar nossas arestas chama-se educação.

KV – Alguns artistas têm trabalhos exageradamente valorizados e depois há uma “desvalorização” dentro do mercado de Arte. Como qualquer outra aplicação financeira o mercado de Arte também tem sua parcela de risco?

RF – Sim. Para evitar-se o risco o colecionador e os amantes das artes devem procurar profissionais que percebam ter afinidade para com o tema e formação específica na área ou uma carreira de estabilidade sólida como negociante de artes.
Devem pesquisar e seguir conselhos de profissionais afinados com o mercado atual. Uma outra dica é não se aterem somente ao que está em alta, porém ao que realmente amam e e desenvolverem assim uma linha concisa de coleção de artes. Ao colecionador de ajutar valor à sua coleção…
É importante ao colecionador saber exatamente o que é uma coleção de arte, o que são nuances de mercado e o que é efetivamente ser amante e colecionador de arte. Aí um tema excelente para explorarmos num debate em minha próxima ida ao Brasil. Aprendemos a apreciar a História e as artes, aprendemos a analisar trajetórias e mercado, mas devemos aprender a colecionar.

KV – Num período tão conturbado em que vivemos onde tabus, dogmas e preconceitos são cada vez mais, felizmente, minimizados, qual será o papel do artista agora, principalmente o artista que busca transgredir, quebrar barreiras?

RF – O artista deve continuar a se exprimir, quanto mais barreiras são quebradas, maior é a missão do artista, pois não há um estado de perfeição que estaremos alcançando. Na minha opinião a humanidade e nossa História é feita de desenvolvimento contínuo. Se pensamos que já esta tudo ok, aí sim é que devemos questionar se realmente estamos no bom caminho. Pensando globalmente, não estamos nem a um pequeno passo dessa realização. Há muito o que se fazer e o que se construir e nem sabemos mesmo se estamos indo pelo bom caminho… a arte deve ter o papel de ser libertadora.

KV – Materiais inusitados são cada vez mais comuns, assim como o uso da própria imagem em fotos e performances como faz a artista japonesa MARIKO MORI. É uma tendência na Arte o uso de equipamentos tecnológicos?

RF – A tecnologia é um bom caminho e sem volta. Vivemos uma civilização, vivemos um desenvolvimento contínuo. Há muito o que se descobrir, não estamos nem no início, fazemos tantas tolices… olhe a natureza que já não suporta mais nossas besteiras…
A arte é também linguagem, portanto a linguagem da atualidade convive com a tecnologia, num processo de constante questionamento e inovação.

KV – O sucesso de crítica nem sempre é valorizado pelo mercado de arte e vice-versa. Alguns exemplos como PORTINARI (o escritor Mário de Andrade dizia que ele era o “mais moderno dos antigos”) e mais recente ROMERO BRITTO são valorizados pelo mercado, mas “bombardeados” pela crítica. Como se resolver esta difícil equação?

RF – Não é uma equação. As palavras e as expressões artísticas convivem num processo linear, há que dar-se tempo para a digestão de cada crítica e para a compreensão de cada trabalho. O mais importante é a observação. Algumas críticas se confirmam, alguns trabalhos se impõem como retrato de uma contemporaneidade. O mais importante é que o fluxo e o debate aconteçam, pois o resultado disso chama-se História.

KV – Para o mercado de Arte também vale a máxima da “Oferta e Procura”, ou seja, um artista produzir muito poderá contribuir para que suas obras possam valer menos?

RF – Se perguntarmos isso a Picasso estará rindo de nós, pois foi uma verdadeira máquina de produção. O que mais vale não é se há muita ou pouca obra no mercado, porém a qualidade dessa expressão. Ao artista que trate de sua essência, ao mercado de julgar a qualidade do trabalho e efetivamente apurar se o que está sendo oferecido é bom ou não. O dá resposta a essa questão é simplesmente a qualidade e não a quantidade.

KV – Hoje não há mais limites para a criação artística, em contrapartida tornou-se uma tarefa difícil, ou quase incompreensível de validar monetariamente uma obra?

RF – Como tudo no mundo atualmente, os valores são difíceis de serem determinados. Porém existem sim, critérios.
Pessoalmente insisto no conceito apresentado, na técnica proposta, na qualidade da obra e na trajetória do artista.
Há evidentemente outros fatores a serem discutidos.
Há necessidade de coerência e equilíbrio para que uma obra seja efetivamente valiosa.

KV – Alguns fatores podem contribuir para a valorização e reconhecimento de uma artista, a escola ou ateliê onde se formou ou estudou, prêmios de salões oficiais e até uma entrevista em uma revista ou jornal renomados. O que também pode contribuir para o sucesso de um artista.

RF – O artista deve focar na sua trajetória e na construção de uma carreira contínua de crescimento. A arte passa pela educação, pelo crescimento intelectual e pelo conhecimento filosófico… ainda há fundamentos da arte e o artista que se preocupa com a sua formação, sendo ela acadêmica ou não, na minha opinião está no bom caminho.

KV – Recentemente, sob sua direção o CONTEMPORANEO realizou a primeira seleção de artistas visuais brasileiros para participarem do mercado europeu e internacional. Como foram feitas as seleções e qual o resultado.

RF – As seleções foram feitas dentro da análise de todos os ítens que discutimos nesta entrevista, tentando dar oportunidades aos artistas que passaram, passam e passarão (no caso de novos artistas que foram escolhidos) pelas diversas etapas da construção de sua trajetória.
Formamos um grupo de jurados de alto nível e heterogêneo dentro do setor das artes, para que pudéssemos resultar numa escolha homogênea e positiva dos artistas selecionado.
O resultado é muito satisfatório, tão satisfatório que a crítica local tem aplaudido o evento e melhor ainda, os artistas escolhidos… uma grande felicidade, um resultado sensacional, um grande passo no mercado das artes, para cada artista selecionado. Obrigado pela entrevista e aguardo todos no evento aqui em Paris.

Mais informações, acesse site:
http://www.contemporaneo-art.com/portugues/index.php

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